sábado, 25 de setembro de 2010

a little bit of Oscar Wilde.


Lorde Henry: - Ignoro o que os homens entendem por uma boa influência, Mr. Gray. Toda influência é imoral... imoral, sob o ponto de vista científico...
Dorian Gray: - E por quê?
Lorde Henry: - Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma; esta pessoa deixa de sentir suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecado, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela. O fim da vida é o desenvolvimento da personalidade. Realizar a sua própria natureza, eis o que todos procuramos fazer. Os homens, hoje, amedrontam-se deles mesmos. Esqueceram-se do maior de todos os deveres, do dever que cada um deve a si próprio. Naturalmente, são caridosos. Nutrem, e andam nus. A coragem nos abandonou; é possível que nunca a possuíssemos! O terror da sociedade, que é a base de toda a moral, o terror de Deus, que é o segredo da religião, eis as duas coisas que nos governam. (...) E ainda creio que se um homem quisesse viver plenamente, completamente, quisesse dar uma forma a cada sonho, creio que o mundo experimentaria tal impulso de alegria nova que nos esqueceríamos de todos os males medievais para voltarmos ao ideal grego, talvez a qualquer coisa mais linda e rica que esse ideal! O mais bravo, porém, dentre nós tem medo de si próprio. A abjuração de nossas vidas é tragicamente semelhante à mutilação dos fanáticos. Somos punidos pelo que negamos. Cada impulso que tentamos sufocar persevera em nosso íntimo e nos intoxica. O corpo peca a princípio e satisfaz-se com o pecado, porque a ação é o modo de purificação. Só conservamos a lembrança de um prazer ou a voluptuosidade de uma saudade. Só quando cedemos a uma tentação nos desenbaraçamos dela. Procure resistir e sua alma há de aspirar doentemente a tudo de que quiser preservar-se, com a agravação do desejo por aquilo que todas as leis monstruosas tornaram ilegal e monstruoso. Já se disse que todos os grandes acontecimentos do mundo se acomodam no cérebro. É no cérebro, e aí somente, que também tomam lugar os grandes pecados do mundo. O senhor, Mr. Gray, com a sua candente mocidade e a sua cândida infância, há de ter tido paixões que o terão espantado, pensamentos que já o encheram de terror, dias de sonho e noites de sonho que, simplesmente recordados, bastarão para subir-lhe o rubor das faces...

Trecho do livro ''O Retrato de Dorian Gray''.

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