John William Waterhouse - Cymon and Iphegenia
Meus amigos, se durante meu recesso virem por acaso passar a minha amada, peçam silêncio geral. Depois apontem para o infinito. Ela deve ir como uma sonâmbula, envolta numa aura de tristeza, pois seus olhos só verão a minha ausência. Ela deve estar cega de tudo o que seja o meu amor (esse indizível amor que vive trancado em mim num cárcere mirando em pós seu rastro). Se for a tarde, comprem e desfolhem rosas à sua melancólica passagem, e se puderem entoem cantus-primus. Que cesse totalmente o tráfego e silencie as buzinas de modo que se ouça longamente o ruído de seus passos. Ah, meus amigos ponham as mãos em prece e roguem, não importa a que ser ou divindade por que bem haja a minha grande amada durante o meu recesso, pois sua vida é minha vida, sua morte a minha morte. Sendo possível soltem pombas brancas em quantidade suficiente para que se faça em torno a suave penumbra que lhe apraz. Se houver por perto um hi-fi, coloquem o "Noturno em sí bemol" de Chopin. E se porventura ela se puser a chorar, oh recolham-lhe as lágrimas em pequenos frascos de opalina a me serem mandados regularmente pela mala diplomática. Meus amigos, meus irmãos (e todos os que amam a minha poesia), se por acaso virem passar a minha amada salmodiem versos meus. Ela estará sobre uma nuvem envolta numa aura de tristeza o coração em luz transverberado. Ela é aquela que eu não pensava mais possível, nascida do meu desespero de não encontrá-la. Ela é aquela por quem caminham as minhas pernas e para quem foram feitos os meus braços. Ela é aquela que eu amo no meu tempo e que amarei na minha eternidade - a amada una e impretérita. Por isso procedam com discrição mas eficiência: que ela não sinta o seu caminho, e que este, ademais ofereça a maior segurança. Seria sem dúvida de grande acerto não se locomovesse ela de todo, de maneira a evitar os perigos inerentes às leis da gravidade e do momentum dos corpos, e principalmente aquele devidos à falibilidade dos reflexos humanos. Sim, seria extremamente preferível se mantivesse ela reclusa em andar térreo e intramuros num ambiente azul de paz e música; Oh, que ela evite sobretudo dirigir à noite e estar sujeita aos imprevistos da loucura dos tempos. Que ela se proteja, a minha amada contra os males terríveis desta ausência com música e equanil. Que ela pense, agora e sempre em mim que longe dela ando vagando pelos jardins noturnos da paixão e da melancolia. Que ela se defenda, a minha amiga contra tudo que anda, voa, corre e nada; e que se lembre que devemos nos encontrar, e para tanto é preciso que estejamos íntegros, e acontece que os perigos são máximos, e o amor de repente de tão grande tornou tudo frágil, extremamente, extremamente frágil.
Nostalgie de L'avenir
sábado, 2 de abril de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
Certo dia, por lembrar-te lacrimosa, pensei nas estrelas.
Toda noite, quando entrego-me ao céu, deleito-me diante de tão pleno fulgor... As estrelas, em mim, entornam a beleza do orvalho a qual se perdeu pelo alvorecer de antigamente... E esta comoção noturna, agora se assim prefere ser, só não me provoca mais tristeza, porque certo dia, deparei-me às lágrimas entornando aos olhos teus... Estes os quais luziam... Sim, luziam! Como que pintados sobre uma tela de cor azul profundo, e infinito...
segunda-feira, 7 de março de 2011
''Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. A quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai ; je découvrirai le prix du bonheur ! Mais si tu viens n'importe quand, je ne saurai jamais à quelle heure m'habiller le coeur...''
(Trecho retirado do livro do Pequeno Príncipe, em francês, que ganhei da minha querida amiga Marcela).
(Trecho retirado do livro do Pequeno Príncipe, em francês, que ganhei da minha querida amiga Marcela).
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Apenas mais uma espera.
Ambos exasperados silenciosamente, fizeram das poucas palavras, meras quebras de uma linha descontínua de um silêncio assustador. Era tanto para se dizer, era tanto para se falar - antes do não, antes do sim. Antes do começo ou antes do fim. Todas as palavras de seiscentos dias, tanto querendo ser ditas, tanto querendo não ser ditas, pois tão eufóricas, confusas... e tão prontas para expandir-se ruidosamente.
Inseguras palavras... E apenas o que se fez foi um momento. Nada iniciado ou terminado.
Apenas mais uma espera.
Inseguras palavras... E apenas o que se fez foi um momento. Nada iniciado ou terminado.
Apenas mais uma espera.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Sinal Fechado - Chico Buarque
– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!
domingo, 14 de novembro de 2010
Fragmento de ''Elogio da Loucura''
"Ó céus! Acaso há homens mais felizes na terra que os comumente chamados de loucos, insensatos, bobos e imbecis? Em primeiro lugar, eles não temem de modo nenhum a morte, o que, certamente, não é uma pequena vantagem. Não conhecem nem os remorsos devoradores de uma má consciência, nem os vãos terrores que as histórias do inferno inspiram aos outros homens... Jamais o temor dos males que os ameaçam, jamais a esperança dos bens que podem obter seria capaz de perturbar por um só instante a tranquilidade da alma deles.(...) E, se são bastante felizes para chegar muito perto da estupidez dos brutos, têm ainda a vantagem, segundo os teólogos, de ser impecáveis."
Erasmo de Rotterdam
Erasmo de Rotterdam
sábado, 25 de setembro de 2010
a little bit of Oscar Wilde.
Lorde Henry: - Ignoro o que os homens entendem por uma boa influência, Mr. Gray. Toda influência é imoral... imoral, sob o ponto de vista científico...
Dorian Gray: - E por quê?
Lorde Henry: - Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma; esta pessoa deixa de sentir suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecado, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela. O fim da vida é o desenvolvimento da personalidade. Realizar a sua própria natureza, eis o que todos procuramos fazer. Os homens, hoje, amedrontam-se deles mesmos. Esqueceram-se do maior de todos os deveres, do dever que cada um deve a si próprio. Naturalmente, são caridosos. Nutrem, e andam nus. A coragem nos abandonou; é possível que nunca a possuíssemos! O terror da sociedade, que é a base de toda a moral, o terror de Deus, que é o segredo da religião, eis as duas coisas que nos governam. (...) E ainda creio que se um homem quisesse viver plenamente, completamente, quisesse dar uma forma a cada sonho, creio que o mundo experimentaria tal impulso de alegria nova que nos esqueceríamos de todos os males medievais para voltarmos ao ideal grego, talvez a qualquer coisa mais linda e rica que esse ideal! O mais bravo, porém, dentre nós tem medo de si próprio. A abjuração de nossas vidas é tragicamente semelhante à mutilação dos fanáticos. Somos punidos pelo que negamos. Cada impulso que tentamos sufocar persevera em nosso íntimo e nos intoxica. O corpo peca a princípio e satisfaz-se com o pecado, porque a ação é o modo de purificação. Só conservamos a lembrança de um prazer ou a voluptuosidade de uma saudade. Só quando cedemos a uma tentação nos desenbaraçamos dela. Procure resistir e sua alma há de aspirar doentemente a tudo de que quiser preservar-se, com a agravação do desejo por aquilo que todas as leis monstruosas tornaram ilegal e monstruoso. Já se disse que todos os grandes acontecimentos do mundo se acomodam no cérebro. É no cérebro, e aí somente, que também tomam lugar os grandes pecados do mundo. O senhor, Mr. Gray, com a sua candente mocidade e a sua cândida infância, há de ter tido paixões que o terão espantado, pensamentos que já o encheram de terror, dias de sonho e noites de sonho que, simplesmente recordados, bastarão para subir-lhe o rubor das faces...
Trecho do livro ''O Retrato de Dorian Gray''.
Dorian Gray: - E por quê?
Lorde Henry: - Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma; esta pessoa deixa de sentir suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecado, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela. O fim da vida é o desenvolvimento da personalidade. Realizar a sua própria natureza, eis o que todos procuramos fazer. Os homens, hoje, amedrontam-se deles mesmos. Esqueceram-se do maior de todos os deveres, do dever que cada um deve a si próprio. Naturalmente, são caridosos. Nutrem, e andam nus. A coragem nos abandonou; é possível que nunca a possuíssemos! O terror da sociedade, que é a base de toda a moral, o terror de Deus, que é o segredo da religião, eis as duas coisas que nos governam. (...) E ainda creio que se um homem quisesse viver plenamente, completamente, quisesse dar uma forma a cada sonho, creio que o mundo experimentaria tal impulso de alegria nova que nos esqueceríamos de todos os males medievais para voltarmos ao ideal grego, talvez a qualquer coisa mais linda e rica que esse ideal! O mais bravo, porém, dentre nós tem medo de si próprio. A abjuração de nossas vidas é tragicamente semelhante à mutilação dos fanáticos. Somos punidos pelo que negamos. Cada impulso que tentamos sufocar persevera em nosso íntimo e nos intoxica. O corpo peca a princípio e satisfaz-se com o pecado, porque a ação é o modo de purificação. Só conservamos a lembrança de um prazer ou a voluptuosidade de uma saudade. Só quando cedemos a uma tentação nos desenbaraçamos dela. Procure resistir e sua alma há de aspirar doentemente a tudo de que quiser preservar-se, com a agravação do desejo por aquilo que todas as leis monstruosas tornaram ilegal e monstruoso. Já se disse que todos os grandes acontecimentos do mundo se acomodam no cérebro. É no cérebro, e aí somente, que também tomam lugar os grandes pecados do mundo. O senhor, Mr. Gray, com a sua candente mocidade e a sua cândida infância, há de ter tido paixões que o terão espantado, pensamentos que já o encheram de terror, dias de sonho e noites de sonho que, simplesmente recordados, bastarão para subir-lhe o rubor das faces...
Trecho do livro ''O Retrato de Dorian Gray''.
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domingo, 8 de agosto de 2010
silêncio, por favor...
''...enquanto eu esqueço um pouco a dor no peito.
não diga nada sobre os meus defeitos,
eu não me lembro mais o que me deixou assim.
Hoje eu quero apenas uma pausa de mil compassos.''
não diga nada sobre os meus defeitos,
eu não me lembro mais o que me deixou assim.
Hoje eu quero apenas uma pausa de mil compassos.''
segunda-feira, 19 de julho de 2010
"...Esses afagos porém não passavam de uns prolongados apertos de mão, de algum abraço dado assim em ar de brinquedo e sem intenção amorosa, ou de um desses olhares mudos, longos e repassados de ternura, que em si resumem todo um poema de amor. Bem vontade tinham eles de se beijarem, mas tolhia-os um acanhamento virginal, esse pudor nativo, que é como o orvalho, que só na aurora esmalta o cálix das flores, e os desejos morriam-lhes dentro da alma, e os beijos apenas lhes estremeciam na ponta dos lábios, como tenros passarinhos batendo as asas implumes à beira do ninho, ansiando, mas nunca ousando desprender o vôo pelo espaço."
Trecho do livro O Seminarista de Bernardo Guimarães.
Trecho do livro O Seminarista de Bernardo Guimarães.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Uma viagem surreal - Dalí e Walt Disney
''Destino é um curta-metragem animado lançado em 2003 pela The Walt Disney Company. É o único em que a sua produção inicialmente começou em 1945, 58 anos antes de sua eventual conclusão. O Projeto foi uma colaboração entre o animador Walt Disney e o pintor espanhol surrealista Salvador Dalí, e inclui música escrita pelo compositor mexicano Armando Dominguez.
Os seis minutos do curta mostram a história de um mal-fadado amor que Chronos tem para uma mulher mortal. A história continua como a fêmea dança através das paisagens surreais inspiradas por Salvador Dalí.''
Os seis minutos do curta mostram a história de um mal-fadado amor que Chronos tem para uma mulher mortal. A história continua como a fêmea dança através das paisagens surreais inspiradas por Salvador Dalí.''
domingo, 4 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
''Uma vez conformado, uma vez feito o que outras pessoas fazem só porque fazem, uma letargia infiltra-se em todos os nervos mais finos e faculdades da alma. Ela se torna todo o espetáculo externo e vazio interior; estúpida, rígida e indiferente.'' Virginia Woolf
Cena do filme As Horas (Nicole Kidman protagonizando a escritora)
Cena do filme As Horas (Nicole Kidman protagonizando a escritora)
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